Cris Guerra é praticamente a mãe dos blogs de moda. Responsável pelo primeiro site de looks diários do Brasil, a publicitária iniciou sua trajetória na internet com o “Para Francisco”, uma espécie de refúgio para superar a morte do marido e compartilhar histórias do passado com o filho récem-nascido. Pouco tempo depois, nasce o “Hoje Vou Assim”, blog que a consagrou como uma das personalidades mais influentes da web. De lá pra cá, Cris conquistou uma legião de seguidores e admiradores que acompanham seu trabalho como escritora, colunista, publicitária, palestrante e, claro, blogueira.
UPTIME: O “Para Francisco” surgiu em um momento muito triste da sua vida e pouco tempo depois você criou o “Hoje Vou Assim”, que aborda um assunto totalmente diferente. Qual a relação dos dois blogs para você? Eles foram um escape da situação que você estava vivendo?
Cris Guerra: Com certeza. Sem os dois blogs, não sei o que teria sido de mim. Os dois blogs, paradoxais, foram essenciais para que eu vivesse o meu luto de forma saudável, sem me entregar à tristeza e sem fazer da alegria um esconderijo da dor. Eu estava vivendo um momento de opostos: a chegada do meu filho (maior felicidade na vida de uma mulher) e a perda do amor da minha vida (provavelmente o maior sofrimento que já tive). Dois sentimentos tão contraditórios precisavam ser expressos, e naturalmente demandaram blogs de conteúdos opostos, mas complementares. Foi uma fórmula não planejada, mas fundamental para me ajudar a superar esse momento e também para mudar completamente a minha vida.
UP: O “Hoje Vou Assim” foi o primeiro blog de looks diários do Brasil. Lá na gringa isso já existia há mais tempo, você acompanhava algum antes de criar o seu? Se sim, quais?
CG: Não. Eu estava tão mergulhada no momento particular que eu estava vivendo, que não tinha ideia de blogs como o Sartorialist. Quando criei o HOJE VOU ASSIM, uma grande amiga me disse que a ideia desse "editorial da vida real" era muito parecida com o Sartorialist. E me mandou o link para eu conhecer. Acho que nessa mesma época conheci o "Le blog de Betty", que adorei.
UP: Para você o que é moda?
CG: Moda é a liberdade de escolher ser do jeito que a gente quiser ser – e isso pode mudar de um dia para o outro, inclusive. É a liberdade de ser novo a cada dia. Um instrumento de felicidade e de rejuvenescimento, embora grande parte das pessoas ainda não tenha descoberto isso.
UP: Se você pudesse citar uma lição que a moda te ensinou, qual seria?
CG: Duas coisas:
1. Não é preciso ter um armário abarrotado para ter estilo. Muito pelo contrário: quanto mais segura do nosso estilo estamos, menos roupas habitam o armário. É uma questão de amadurecimento.
2. Aprendi que a pior forma de usar a moda é na tentativa de parecer outra pessoa. O grande lance é fazer uso do que está por aí para gostar mais de ser você mesma. Passo esse conselho adiante sempre.
UP: Ser blogueira também é uma de suas profissões. Quando o hobby vira trabalho perde a graça?
CG: De maneira alguma. É uma delícia fazer do hobby um trabalho. Mas não consigo ir além quando esse "trabalho que era hobby" começa a exigir de mim algo que não é verdadeiro. Acho que é isso que diferencia a blogueira que entrou na história para ganhar dinheiro e a blogueira que o faz por paixão.
UP: A grande graça da internet é que ela é sem fronteiras. Você provavelmente deve ter leitores de diferentes países, há alguma preocupação em criar conteúdos online ou livros em outros idiomas?
CG: Adoraria poder fazer isso, pois sei que tenho leitores em outros países, mas não consigo equacionar isso. Não tenho equipe nem tempo para isso. Quem sabe mais para frente? Meu livro "Para Francisco" vai começar agora a ser traduzido para o Espanhol. Seria incrível se também fosse transcrito para o inglês.
UP: Falando nisso, o inglês é a língua universal. Como é a sua relação com o idioma? Como ele está inserido no seu dia a dia?
CG: Fiz inglês desde muito nova, adoro e tenho uma boa pronúncia – mais britânica. Já fui elogiada por uma inglesa no Caribe "for my good accent"! Estudei inglês por muito tempo fora da escola tradicional e parei na véspera do vestibular, pois tinha um nível bom e precisava estudar outras matérias. Depois voltei a fazer, mas sempre parei por causa de outros compromissos. O fato de ser boa em inglês me fez ser um pouco relapsa e parar. E isso é triste. Sempre que volto a fazer ou praticar um pouco tenho um prazer enorme. Amo a língua. Mas minha fluência precisa melhorar. Acho que é como fazer esporte: estou sempre devendo.
UP: Na moda, principalmente, as principais referências de pesquisa vem de fora do país. Na publicidade também. Como você percebe a importância de ser fluente na sua profissão, ou melhor, profissões?
CG: O inglês é uma janela que nos permite olhar o mundo com visão de longo alcance. Não saber uma outra língua é uma espécie de analfabetismo, principalmente na hora de pesquisar na internet. O inglês ajuda muito, abre muito mais portas e isso é liberdade.
UP: A língua inglesa já fez você conquistar algo ou chegar em algum lugar? Um contato de trabalho, por exemplo..
CG: Acho que ela sempre foi importante na minha profissão como publicitária. Não influenciou diretamente numa conquista, mas provavelmente eu não me manteria numa profissão como essas sem saber falar um pouco de inglês.
UP: Quando você viaja para o exterior acaba conhecendo pessoas muito importantes. Teve alguém, algum ídolo, que você conheceu e que, parando para pensar, sem a fluência em inglês esse encontro não seria possível?
CG: Eu não viajo tanto para fora. Mas todas as vezes que fiz isso, o inglês sempre foi comigo como um kit de primeiros socorros. É impressionante: se eu preciso me virar num país estrangeiro, o inglês surge lá de dentro e flui. É uma língua que está internalizada em mim, faz parte do meu repertório. Sei que se começar a fazer aulas agora, tudo vai voltar maravilhoso. Adoro conversar em inglês, embora atualmente tenha mais medo de errar. Mas fora do país a gente se joga mais e é ótimo. Não me lembro de algum caso com alguém muito importante ou conhecido não. Até que poderia ser uma ideia interessante encontrar o George Clooney num elevador. Eu teria muito a dizer pra ele, rs.
Cris Guerra também já conversou sobre moda e inspiração para o UPTIME Plus, web série da TV UPTIME. Clique aqui e assista!